Eu tive muitos dias felizes na minha preparação. Mas tive também muitos, muitos dias extremamente difíceis em que a carga do concurso se somou com alguma bomba na vida pessoal, causando um efeito estilo tsunami.

Se eu fosse escrever TUDO, daria um livro. Hoje eu quero te contar de uma noite. A noite mais marcante daqueles duros anos. Estranhamente, não me recordo do dia exato, mas era início de junho de 2009 (lembro pois foi pertinho do meu aniversário).

Meu querido avó Sérgio estava com câncer há alguns anos, mas estava controlado… ruim, mas controlado. Com a saúde frágil desde antes do câncer em razão de uma vida de excessos  + câncer + idade relativamente avançada , o prognóstico não era bom. Eu estava triste, mas naquela altura, já estava conformada. Eu só achei que teria mais tempo.

Naquela noite de junho eu estava MUITO triste. Demais. Com os concursos, com a vida, comigo mesma, com saudade do meu irmão que mora fora, chateada com meu relacionamento… enfim, pensa em um buraco. Eu estava lá. Bem no fundo ele, deitava em posição fetal, sentindo completa impotência e medo. Eu já não tinha aquele pleeeeno controle emocional. Na verdade, eu me sentia sem rumo, sem esperança e sem valor. Eu estava tão mal (e minha mãe e avó também, pois descobriram que meu avó estava com metástase) que meus pais fizeram uma coisa inédita: visitar minha avó em dia de semana. Eles foram para que minha avó e mãe pudessem conversar sobre o vovó (como contar a ele a situação) e para me dar uma levantada. Naquele dia, com a notícia do meu avó e o completo caos pessoal, eu não sabia nem o que sentir. Eu era só desespero. Ver meus avós sempre me animou muito. Pensei na volta que tinha sido bom ter ido, mas naquele momento eu não sabia o que estava por vir.

Cheguei em casa, deitei para dormir e rezei, orei como nunca antes. Pedi a Deus que se lembrasse de mim. Sentia-me esquecida. Implorei que me mandasse uma notícia boa, qualquer uma, que eu encararia como uma sinal de que eu deveria ser forte porque o temporal iria passar. Eu dormi rezando.

Lá pelas 3 da manhã o telefone tocou. Vovó desesperada nos chamou. Meu avó tinha sofrido um AVC. Eu não pude acreditar. Eu tinha acabado de pedir a Deus que pegasse mais leve comigo pois não suportava mais e Ele me aprontava essa? Depois de pensar isso, lembro de sentir culpa por estar saudável e meu avó não. Senti que era egoísta e ingrata. Aquela madrugada foi longa e triste, bem como os meses seguintes. Ele entrou em coma na noite do AVC e permaneceu assim por três meses. NUNCA na minha vida eu vou esquecer do que aquela noite me ensinou.

Eu fui ao hospital quase que todos os dias. Estranhamente, aquilo me chamou para a realidade, me mostrou que a vida é mais do que estudar e conseguir um trabalho. Eu renasci na dor. Eu senti esperança na dor. E isso aconteceu porque um MUDEI DE PERSPECTIVA NA MARRA. Quando eu estava um pouco mais forte, ele faleceu. Uns 3 dias depois minha avó paterna faleceu. Foi súbito. Sim. Dois funerais na mesma semana. Eu lembro de sentar na minha cama uma manhã CHOCADA com o estado em que minha vida estava. Parecia que era Deus dizendo que se eu tinha algum fio de esperança de virar o jogo, era para eu tirar meu cavalinho da chuva que não iria rolar. Saiu então o edital da Receita. Eu não passei depois de uns quatro anos de total dedicação. Ressalto que toda reprovação é multifatorial e o ocorrido não foi a causa. Foi um dentre vários fatores. Eu cometi muitos erros na preparação. EU ME REPROVEI. NINGUÉM NOS REPROVA. SÓ A GENTE TEM ESSE PODER.

Aquele fim de ano foi DURO. 2010 eu nem me lembro direito. Minha memória apagou os detalhes. 2011 foi abençoado com aprovações e o início da minha caminhada como professora para concursos. Em 2012 tomei posse no meu segundo cargo público e conheci meu marido no curso de formação do primeiro concurso. Em 2014, eu me casei. Em 2015, tornei-me estável no serviço público e comprei meu apê. Em 2017, sai do meu trabalho amado nos grandes cursinhos do país (atuei no Ponto dos Concurso e no Estratégia), abri minha própria empresa Mente Concurseira e lancei um livro. A VIDA DÁ VOLTAS, MESMO QUANDO TUDO PARECE PERDIDO. TÁ ACHANDO QUE NÃO TEM NADA? EM 2009, EU NÃO TINHA NEM SAÚDE EMOCIONAL, IMAGINA DINHEIRO E EMPREGO! TINHA NADA, ZERO. SÓ DESESPERO.

Sabe o que pude notar? Que EU MUDEI A INTERPRETAÇÃO DAQUELA NOITE. Deus NUNCA me virou as costas. Só me mostrou, quando eu achei que as forças me faltavam, que eu tinha estrutura para muito mais, par ao que fosse necessário. Deus não me testou. Não vejo assim. Deus me MOSTROU quem eu era, o quão forte eu era, o valor que eu tinha (mesmo sem aprovação). E não teria como eu acreditar de outra forma. E eu achando que Ele tinha me esquecido… e você achando que Ele te esqueceu!

 

4 respostas para “Quando Deus me virou as costas… #sqn!”

  1. gabriella disse:

    OLá!! Primeiramente obrigada! Eu estava sem chão hoje tentando me recuperar e tudo está assim acontecendo de uma vez. Obrigada por me lembrar que passa.
    A vitória chega,no tempo certo, mas chega!
    Confiar e ter saúde psicológica e mental para compreender isso.
    Muito Obrigada por Hoje me fez renascer e entender que há muito mais que o concurso.
    Sabemos disso, mas o emocional fica muito focado nisso.
    Grta pelos seus textos.
    LEIO TODOS, VIU!
    QUASE UM MANTRA, NÃO SÓ NAS FASES RUINS.
    Gabbi

  2. Fabricio disse:

    Obrigado por compartilhar…

    Forte abraço.

  3. Aurenice disse:

    Q história! q superação!fiquei emocionada…quantas vezes já me senti assim…perdida…mas graças a Deus tudo passa!acho q a gente tem sempre q ter fé e acreditar q nada de ruim é para sempre e q se dias melhores sempre virão. Gosto demais dos seus artigos…leio td! vc me incentiva demais! Obrigada! bjs.

  4. Eliane Archanjo disse:

    Já li sua história umas 4x e sempre fico chocada coma sua reviravolta. Apesar das poucas forças atuais desistir não pode ser uma opção.
    Grande beijo!

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