Prepare seu coraçãozinho concurseiro que a fogueira da Santa Inquisição Natalina já está queimando. Jingle Bells!

Fim de ano pode ser uma época bem tensa. Como presume-se que nessa data você precisa estar pleno e radiante, quando você não está, até o pisca-pisca parece estar te provocando.

Para piorar seus parentes do interior começarão a chegar e se instalarão no seu antes silencioso e organizado lar. Você terá que “fazer sala” para as visitas, será coagido a adentrar um shopping lotado para comprar presentes, te designarão um prato para levar para a ceia… Tudo isso vai desafiar sua força de vontade para seguir seu cronograma. Mas creia em mim: Todas essas interrupções, o barulho e o brinquedo do seu sobrinho em cima da sua mesa de estudos não são nada diante das temidas perguntas.

Em nenhuma outra época do ano você socializa com tanta gente de vez e isso – por si só – já é emocionalmente exaustivo.Além de encontrar parentes que você não vê desde o último Natal, são vários Amigo X com ex-colegas de faculdade, ex-colegas da escola, vizinhos… Lembra do Neo em Matrix? Daquela cena clássica dele se desviando de milhares de tiros? Pode pegar seu gorro de Papai Noel: Você é o Neo natalino. Em vez de tiros, terá que se desviar dos mais sortidos questionamentos sobre sua vida. O povo é criativo!

Mas fica tranquilo! Tô aqui para te passar as manhas. Primeiro, vamos dividir os tipos de pressão:

1 – Pressão que você faz em você

2 – Pressão que você IMAGINA que aconteceu (mas que não aconteceu)

3 – Pressão de pessoas queridas

4 – Pressão de pessoas não tão queridas (ou nada queridas)

1 – Pressão que você faz em você

No Natal passado você jurou para si mesmo que estaria aprovado no próximo… e as coisas não saíram como o previsto. Natal e Ano Novo são datas superestimadas. São nesses dias que você espera que sua vida vai mudar. Mas sabe qual é a realidade? Sua vida vai mudar em uma quarta-feira chuvosa e sem nada de especial, a não ser pelo seu nome no Diário. Relaxe, esqueça esse deadline e vá curtir as loucuras da sua família e amigos. Tire concurso da cabeça e – se não tiver com a corda no pescoço e prova marcada – presenteie-se com uns dias de descanso. Vão te fazer um bem enorme. Mas nada de se sentir culpado, viu? Sem edital na praça, uns diazinhos não vão causar sua reprovação. Pode ficar tranquilo!

2 – Pressão que você IMAGINA que aconteceu (mas que não aconteceu)

Houve um tempo na minha vida em que eu me sentia extremamente oprimida em interações sociais. Veja bem, sou uma pessoa extrovertida (eu – pelo menos – acho). Mesmo assim, tinha receio até de encontrar certas pessoas na rua. Hoje, já com 5 anos de serviço público, olho para trás e sou capaz de entender muita coisa que não via enquanto estava no “olho do furacão”. É isso que vou tentar te mostrar aqui.

Primeiro, preciso destacar algo que pode ser difícil de você aceitar em um primeiro momento: sua autoestima está (provavelmente) bastante balançada. Não, não fica constrangido não. O concurso te coloca em uma situação de constante teste e é impossível se sair bem o tempo todo. Não dá para acertar 90% de cada uma das milhares de baterias de exercícios que você faz. A cada resultado insatisfatório, um tijolinho da sua parede de autoestima é removido. Uma reprovação tira vários tijolinhos de vez. Muito tempo de estrada costuma comprometer a estrutura da parede, que fica bamba.

Quando nossa confiança está no dedão do pé, até um olhar parece bullying. Vou te dar um exemplo para pensar: Imagine que você tivesse passado em um mega concurso! Você certamente ESPERARIA ANSIOSAMENTE pelo momento em que alguém tocaria no assunto concurso. Iria torcer para alguém mandar um “E os concursos?” ou um “Já passou?”. Você se sentiria até honrado com o interesse das pessoas na sua vida! Se ninguém falasse nada, iria pensar que estariam com inveja ou fazendo pouco caso de seu grande feito.

Notou que no exemplo a atitude da pessoa seria a mesma que hoje você julga provocação? A coitada faria a mesma pergunta! O que mudaria seria VOCÊ. Então, só podemos concluir que o problema não é a pergunta e sim… desculpa… sua situação de concurseiro.

Entenda que às vezes a pessoa pergunta “Está estudando muito?”, “Como estão os concursos?” e “Já passou?” por pura falta de assunto. Ela pode não te conhecer muito bem e ter ouvido da sua mãe que você é concurseiro. É só isso que ela sabe de você! As perguntas, portanto, não são para ferir, mas para puxar papo. O desavisado presume que o tema te interessa e sai falando achando que está te agradando!

Outro detalhe: NINGUÉM consegue entender como um concurseiro se sente (o que magoa, ofende…) a menos que seja ou tenha sido um. Você sabe que concurso é como um universo paralelo. Por isso, não cobre das pessoas uma compreensão e uma sensibilidade que não dá para elas terem (pelo menos não no grau que você precisa). Garanto que você está chateado com muita gente que até hoje não se deu conta que te magoou.

3 – Pressão de pessoas queridas

Pai, mãe, irmão, namorado (a), marido, esposa… a pessoa não aguenta mais te ver ralando tanto ou fazendo tanto corpo mole. Independente do tipo de concurseiro que seja, pode ter certeza que quem te ama sofre junto.

Nem todo mundo é fofo, meigo e delicado. As formas de motivar e apoiar podem ser brutas. Com quem nos ama vale a pena muito papo e paciência para fazer a pessoa entender pelo menos um pouquinho da sua realidade, das dificuldades que enfrenta e do maravilhoso prêmio no final. É importante falar também como se sente pressionado com as coisas que ela diz e o quanto isso te atrapalha a estudar com concentração.

4 – Pressão de pessoas não tão queridas (ou nada queridas)

Tem gente que só se sente melhor rebaixando os outros. Triste, mas verdade. Podem perguntar quem te banca enquanto fica nessa “vida boa” de estudar para concurso. Podem duvidar que você estuda mesmo. Podem até questionar porque você acha que vai passar se só gente muuuuito inteligente passa (como se você fosse burro). A maldade de certas pessoas não conhece limites. A solução é ter o mínimo contato com gente assim e falar pouco ou nada sobre seus planos. Sonhos nos são caros e podem ser nosso ponto fraco na hora das críticas. Não arme o inimigo!

RESUMO:

1 – VOCÊ NÃO CONTROLA A BOCA (NEM O PENSAMENTO) ALHEIO. Algumas pessoas podem te achar o máximo e outras podem te achar um zero à esquerda. Nenhuma das opiniões acima muda em nada a sua vida. Além disso, todo mundo tem o direito sagrado de ter a própria opinião. Respeite isso. Lembre-se: Só dá para controlar a sua reação. Mais nada.

2 – VOCÊ TAMBÉM TEM O DIREITO DE SE EXPRESSAR. Sem querer fomentar o caos no seu Natal, já dizia minha avó: Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Sentiu-se agredido? Melhor do que bater boca e pagar de maluco na frente da família toda é perguntar serenamente para a pessoa o motivo de tão grande interesse na sua vida. Complete se oferecendo para dar uma força: “Você está passando por algum problema pessoal que te gera uma necessidade incontrolável de rebaixar as pessoas para se sentir mais importante? Se precisar de alguém para desabafar, tô aí!”. Reforço: tudo com a cara mais plácida do mundo. Não espere a resposta. Diga que vai comer o chocotone antes que acabe e saia de perto.

3 – VOCÊ NÃO ESTÁ NESSA PARA AGRADAR. Pare de fazer questão de impressionar as pessoas. Que mal tem que algumas pensem que você tomou a decisão errada na vida e que todo o esforço que tem feito é perda de tempo? Se isso não gera perda de pontos no concurso, não tem com o que se preocupar, concorda?

4 – VOCÊ NÃO PRECISA DE CONFETE. O projeto é seu e ninguém tem a obrigação de acreditar em você ou te apoiar. Sei que é duro pensar isso, mas essa é a verdade. Você precisa ser capaz de acreditar em si, no projeto e de continuar caminhando sem ter uma só pessoa falando coisas boas para você. Com apoio é mais fácil? Sim! Sem apoio é impossível? De forma nenhuma. Depender do selo de aprovação dos outros é a nossa forma moderna de escravidão. Independência emocional liberta!

Que vocês tenham um Natal e Ano Novo maravilhosos!

Obrigada a quem acompanhou meus artigos esse ano. Espero que tenham aprendido comigo. Eu – certamente – continuo aprendendo muito com vocês.

Beijo

Gabi

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