Não se engane com a comodidade de um delivery trazer uma comida quentinha na sua casa. Nós ainda caçamos mamutes.
Na pré-história não existia esse papo de felicidade não. O plano era SOBREVIVER. Não importava se estava cansado, irritado, doente, ferido. Se quisesse comer para não morrer, teria que sair do conforto de sua caverna e ir caçar seu mamute. Não tinha papo. Não tinha choro. Não tinha desculpa.
De lá pra cá evoluímos um bocado, é verdade. Ainda bem que podemos nos dar ao luxo de buscarmos a felicidade. O problema é que isso está um tanto desvirtuado em nossa sociedade. Estamos vivendo a ditadura da felicidade e alimentando a ideia de que o mundo nos deve algo, de que devemos ser super felizes 24 horas por dia – todos os dias. Expectativa alta, não acha? Totalmente descolada da realidade. Receita para o desastre emocional.
Sou meio nova para falar isso, mas quando eu era criança chatice era parte natural da vida. Se eu tinha que acompanhar minha mãe a um médico, tinha que ficar sentada com – no máximo – umas revistas velhas de adulto para me distrair. Esse é apenas um de muitos exemplos de treinos de “suportar chatice” que a gente tinha. E o treino de “aprender a esperar”? Era inerente à rotina diária! Quer falar com alguém? Tinha que esperar chegar em casa para ligar. Não tinha celular. Como a maior parte de vocês é mais ou menos da minha idade, imagino que estão lembrando bem de como as coisas eram diferentes.
Esse flashback não é puro saudosismo não! Vai servir de referencial nesse texto! Hoje não existe adiar gratificação. É tudo para ontem. Estamos perdendo a capacidade de esperar e estamos nos esquecendo de que a vida é sim dura. Queremos vida de filme! Ou melhor, de instagram. Para muitas coisas, a vida ficou muito fácil e nos deixou moles e com visão distorcida. Nossas vontades parecem ter caráter emergencial. Tá chato? Pega o celular para se distrair! Tá calor? Liga o ar condicionado, de preferência com controle remoto. Quer comer e está com preguiça? Pede delivery! Quer falar com alguém? Deitado na sua cama pode digitar uma mensagem no whatsapp! Tem até app para arrumar um “amor”, gente! Tudo sem sair de casa!
Não me entendam mal. Nada melhor do que conforto e comodidade. Então, qual é o problema? O problema é que a gente esquece que nem tudo são flores e diversão! Perdemos muito a noção do que temos de fato. Quando eu só estudava e morava com meus pais, via uma casa legal, meu quarto bonito… mas costumava dizer que por trás daqueles confortos, eu sabia que se ficasse de repente “eu por mim mesma”, moraria em um bairro muito humilde, numa casinha bem precária. Provavelmente sem NENHUMA das coisas materiais que eu tinha… porque que não tinha de fato. Meus pais tinham. E se você ficar de repente por conta de se sustentar sozinho AGORA? Seu cenário mudaria? Como ele seria? Onde moraria? Não se iluda. Se outra pessoa está provendo os confortos, VOCÊ não tem nada realmente seu. E não digo isso para afetar sua autoestima. Meu trabalho é o oposto. Mas você precisa compreender que é muito fácil não querermos encarar nosso real padrão de vida quando estamos em uma bolha linda e cômoda criada por outros. Ressalto que não vejo nada de errado com isso, desde que você estude. Eu agradeço imensamente meus pais, que facilitaram minha vida… mas eu ralei e saí de lá para criar a MINHA bolha. Recomendo que faça o mesmo.
A gente cresce com uma expectativa muito irreal. MUITO! Acha que vai flutuar da faculdade para um bom emprego e que carro legal, casa espaçosa e acesso a lazer interessante virão se você fizer tudo direitinho. Na maioria dos casos, não é assim que acontece. Você vai fazer tudo certo e como manda o figurino e ainda assim vai ralar para arrumar um emprego que paga menos do que você julga merecer… muito menos. Você vai ter que fazer muito mais do que espera para chegar a tal “vida digna” que a gente imagina. Ficamos com a sensação de que TUDO está ao alcance das mãos. “Você pode ser quem você quiser”, ouvimos muito, né? Podemos mesmo. Só que deixaram de frisar que para isso o preço é ALTO!
O desgaste agora não é físico como nos primórdios, mas sim mental. Caçar seu mamute agora é feito enquanto está sentado na cadeira do seu local de estudos. Ou você acha que há muita diferença entre as duas ações? O grau de esforço é o mesmo! A necessidade/desespero é a mesma! Não se engane com netflix, ar condicionado, controle remoto, delivery e celular. Você é aquele ser primitivo caçando o mamute, desculpe te informar.
Sabe o que me deixa chateada? Como vocês entregam os pontos rápido! Gente, se fosse fácil todo mundo seria concursado! Essa desistência é uma FALTA DE RESPEITO COM VOCÊ! RESPEITE OS SEUS SONHOS E OS DEFENDA FEROZMENTE. Ninguém vai fazer isso para você!
Eu sempre digo aqui em casa que VONTADE é uma coisa SAGRADA! O contrário da vontade é a depressão, quando nada te encanta e desperta alegria no seu coração. Assim, cultive a vontade. Dito isso, vamos nos aprofundar. Assim como no Direito há um sistema de freios e contrapesos, o mesmo deve existir na sua vida. Quando dois direitos conflitam, não há regra geral para a solução, não é assim? O impasse é solucionado caso a caso. Na sua vida sempre haverá um embate de vontades. Todos os dias. Várias vezes por dia. Quero emagrecer. Quero comer outro twix. Qual vontade, se saciada, alegrará mais o meu coração? Cada pessoa tem uma resposta.
Você quer passar? Vai doer. Vai ter que mudar a rotina e abrir mão temporariamente de algumas coisas (ou pelo menos da frequência com que tinha acesso a elas). Trade off da vida! Não dá nem para discutir.
“Não estudei porque essa matéria é chata”. Como é que é??? Filho, this is Sparta! Não tem essa de “não fiz porque achei chato”! O mundo não é seu play! O examinador não quer te divertir. Muito pelo contrário. Você já é adulto e isso implica em fazer o que não gosta quando necessário, engolir o choro e tocar o barco! Se estiver realmente muito abalado emocionalmente, chore que alivia. Mas depois vá estudar por motivos de “as questões de prova não vão se resolver sozinhas”.
“Ah… reprovei. Estou arrasado, derrotado. Desisto!” Mas já? O jogo nem começou, amigo! Você ainda vai apanhar muito antes de começar a bater. Só te digo uma coisa: Tem um mamute passando na porta da sua caverna agora! Se ficar admirando as pinturas rupestres vai ficar sem o jantar!
Beijo
Gabi