Quando eu estava na escola, lembro dos adultos me dizendo que quando eu crescesse, a vida seria “sem rede de proteção”. Confesso que não entendia muito, mas já ficava morta de medo. Não entendia principalmente porque não conseguia enxergar as ajudas, os mimos. Meus pais eram amorosos, porém linha dura. “Como assim não vai ter mais rede de proteção? Não vejo rede nenhuma!” Na minha cabeça de criança e de adolescente, a vida era duríssima! Kkkk
Quando me formei, veio a primeira porrada. O que eu iria fazer da vida? Eu tinha decisões sérias a tomar. Cada uma implicava, como sempre, uma renúncia. Em outras palavras, um risco. As consequências? Teria que suportar todas. NINGUÉM poderia facilitar para mim, por mais que tivesse boa vontade. “Vida adulta, cheguei! Favor pegar leve!”
Escolhi o concurso. Depois dessa decisão, era pelo menos uma porrada por dia. Era matéria que não acabava mais, pressão social, zero dinheiro, medo de não passar nunca, risco alto, investimento alto, zero garantias. Eu digo que “quebrei” muitas vezes nessa época.
O que quero dizer com “quebrar” é chorar de desespero, sentir uma tristeza em um grau que você antes desconhecia, uma ansiedade dura de tolerar. Era perder a fé em mim 32 vezes ao dia, só para engolir o choro e seguir por total falta de opção melhor.
Muitos de nós chegam à idade adulta condicionados a esperar um “empurrãozinho”. Natural. Afinal de contas, sempre rolou antes. É o dia meio tristinho que os pais deixam a gente matar aula. É a nota baixa que o professor gente boa dá um “trabalho extra” para melhorar o boletim. É a grana que acabou e o pai complementa. É um estágio chatérrimo que você pode se dar ao luxo de pular fora. É a possibilidade de “bater de frente” com quem quer que seja pois você não dependia de ninguém além da sua família. O problema é que agora VOCÊ DEPENDE DE VOCÊ e NINGUÉM PODE TE “SALVAR“ DESSA REALIDADE.
Tem gente que “quebra” muito cedo. Passa muito perrengue, começa a trabalhar cedo para ajudar em casa, perde o pai, a mãe… A pessoa aprende cedo a criar uma couraça para enfrentar a vida e fica mais forte. Essa pessoa tende a chegar na idade adulta e enfrentar um desafio como um atleta enfrenta uma prova.
Quando comecei a estudar, nada de muito ruim tinha me acontecido. Tinha apenas 21 anos quando comecei. Muito do choro, do desespero, das dúvidas era fruto de falta de referência, de falta de experiência de vida. Hoje posso ver isso com clareza. No meio da minha preparação sofri grandes baques, como mortes na família, a mudança de país do meu irmão (com quem eu era mega agarrada) e tantos outros percalços que não caberiam aqui no artigo. Em alguns momentos, sentia uma forte sensação de abandono. As grandes porradas da vida pareciam ter se concentrado em 3 anos. Preferia que tivesse sido mais “diluído”. Mas eu não mando em tudo. Mal mando em mim! Seguindo o exemplo dado no parágrafo acima, eu era como uma sedentária disputando as Olimpíadas! Kkkkk
O que estou tentando dizer é que muitos de nós concurseiros (no meu caso, ex-concurseira) somos MIMADOS e não percebemos. Isso não é uma crítica, ok? É uma constatação. Calcule se todo o desespero que sente REALMENTE se justifica. Compare sua vida com a de gente que daria TUDO para ter sua “sofrida vida de concurseiro”. Não estou diminuindo seus esforços. Eu vivi o que você vive hoje e sei que é DUREZA. Estou tentando te dar um pouco de PERSPECTIVA.
Fato é que a gente vai “quebrar” muitas vezes. Separações. Mortes. Demissões. Decepções. Tudo isso é parte da vida. Depois de “sobreviver” a cada evento citado, você renasce das cinzas, mais forte, mais preparado para enfrentar desafios. Mais sereno diante do caos e MAIS GRATO PELOS BONS MOMENTOS, PELOS PLANOS QUE DÃO CERTO, PELOS ENCONTROS COM PESSOAS INCRÍVEIS. A essa capacidade damos o nome de resiliência.
Não importa a idade que tenha. Se você está se apavorando demais com a vida de concurseiro, pare para pensar se não está com a perspectiva embaçada, se não se encaixa no que falei acima. Agora não tem mesmo rede de proteção. Ninguém vai abaixar os parâmetros, afrouxar a cobrança, te dar empurrãozinho, “dar trabalho para aumentar a nota”.
Agora é bicicleta sem rodinha! Se cair, vai doer SIM. Mas com o tempo cairá menos e saberá administrar melhor a dor. Pare de ver as quedas como punição ou má sorte e passe a encarar como ETAPA NATURAL DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM. PERMITA-SE QUEBRAR! Não tenha medo do que vem depois. O que você tem pela frente é FORÇA! Brevemente, serão mais alegrias do que dores. Aguente firme! Foco, força e fé!
Abs
Gabi